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23/11/2015

Mídia e gênero e outros temas fazem parte da I Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência

Mídia e gênero e outros temas fazem parte da I Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência

Começa hoje, das 19h às 21h, no Centro de Eventos do Shopping Estação, a I Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência. O encontro acontecerá de 23 a 25 de novembro, na UP e na UFPR, com o objetivo de debater sobre as formas de violência de gênero e doméstica contra as mulheres, discorrer sobre suas causas e efeitos e refletir sobre propostas de intervenção e erradicação das desigualdades de gênero.


O evento também deseja compartilhar práticas de intervenção em que os resultados tenham contribuído para a superação da discriminação e violência contra as mulheres, e proporcionar condições para que as mulheres que superaram a violência com apoio das políticas públicas possam manifestar-se por meio de depoimentos e produções artísticas e literárias.


A programação completa do evento você pode acompanhar aqui.


Mariana Franco Ramos, diretora de fiscalização do SindijorPr e integrante do Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta, participa do evento como painelista sobre o tema Interseção entre Mídia e Gênero. Na entrevista abaixo, ela adianta um pouco das relações existentes entre esses dois temas.


O que a mídia tem a ver com a cultura machista? 


Sabemos que o machismo, quando não a misoginia (que é o ódio ou aversão a mulheres), está impregnado na sociedade brasileira. E a mídia, evidentemente, está inserida nesse contexto. São muitos os jornais que abordam, por exemplo, situações de violência de forma sensacionalista ou culpabilizadora, reforçando estereótipos e contribuindo para a manutenção do status quo. Mas acredito que existe sim, de outro lado, um movimento contrário, de grupos de jornalistas comprometidos em, ao relatar os problemas, apontar possíveis soluções. A presença de mulheres, muitas das quais feministas, nas redações é fundamental para confrontar a “lógica” midiática de invisibilidade, opressão e objetificação.


Como as formas pelas quais a mídia aborda o gênero e a sexualidade ajudam na construção do imaginário coletivo sobre esses temas?


 Acredito que é preciso tratar os fatos de forma mais contextualizada, contrapondo opiniões embasadas, de especialistas no assunto. Além da culpabilização e do reforço de estereótipos, que eu já citei, muitos profissionais insistem em não dar nomes às coisas – preferem, por exemplo, falar em "crime passional", ao invés de feminicídio, que é o termo correto para assassinato motivado por gênero, ou em sexo sem consentimento, que nada mais é do que estupro.


As redações dos grandes jornais ainda são majoritariamente formadas por pessoas brancas, héteros e cisgêneras. Que tipo de representatividade esse jornalismo tem sobre a sociedade brasileira?


 Uma pesquisa de 2012 da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostrou que as mulheres são maioria nas redações, como são nos cursos de Comunicação Social. No entanto, essa superioridade numérica não é verificada na composição dos conselhos editoriais, por exemplo, responsáveis por definir aquilo que é publicado/veiculado, nem tampouco nos times de articulistas. Faltam espaços fixos, onde tenhamos voz e possamos pautar nossas experiências e vivências. Outro ponto fundamental, como você colocou, é que apenas 23% dos profissionais são negros e negras, ou seja, um percentual bem abaixo daquele apontado pelo IBGE para se referir a pretos e pardos (conforme classificação do instituto). E, embora eu não tenha dados específicos, sabemos que a representatividade de transexuais na imprensa também é praticamente nula. Imagine então quantas pessoas não se veem nos jornais, programas de rádio e de televisão. Ou que, quando se veem, são retratadas de forma preconceituosa e desrespeitosa. Precisamos, de uma vez por todas, de uma mídia que dê voz e vez a todos esses públicos.


A mídia alternativa tem conseguido formular um discurso diferenciado sobre a sexualidade e o gênero?


Existe um esforço de veículos alternativos, como Jornalistas Livres, Brasil de Fato, Mídia Ninja e Geledés, além das blogueiras feministas e negras, em se pautar esses assuntos. Acredito que o caminho passa por aí, bem como pelas iniciativas de fortalecimento da mídia pública e de democratização dos meios. Mas, mesmo em se tratando da imprensa não tradicional, é preciso sempre lutar por mais representatividade.


Na esfera política, o debate de gênero não está avançando em decorrência de questões religiosas e de conservadorismo da política, a mídia também não está trazendo o debate como poderia. Como se pode avaliar isso e fazer o debate com a sociedade? Neste cenário, qual é o papel das/os jornalistas?


Os grupos conservadores, representados no Congresso Nacional pela chamada bancada BBB (do Boi, da Bíblia e da Bala), conseguiram se organizar. É uma aliança bastante poderosa, endossada agora pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Essa frente também possui seus veículos de comunicação – a Folha Universal, por exemplo, que é um jornal semanal, tem uma tiragem de 1,7 milhão de exemplares. Ou seja, consegue alcançar um público maior inclusive do que veículos tradicionais. Os movimentos sociais precisam, portanto, se unir também. Eu costumo dizer que tenho um lado, que é o dos direitos humanos. E imagino que todos tenham – há nas redações, como em qualquer espaço público ou privado, cristãos conservadores, empresários e entusiastas das mais diversas pautas. Então por que não defendermos uma mídia feminista, comprometida com a promoção da cidadania?


Qual a importância de um evento como a Jornada Nacional Mulher - Viver sem violência?


Eventos como esse são importantes primeiro porque colocam o tema em evidência e, segundo, porque reúnem especialistas das mais diversas áreas, dispostos a debater em conjunto formas de prevenir e combater a violência contra a mulher. Precisamos falar mais sobre assédio, sobre estupro, sobre machismo e sobre gênero, seja na escola, dentro de casa ou em espaços públicos.


A I Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência é uma realização da Universidade Positivo (UP), em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba, Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Núcleo de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR),

Autor:Laís Melo e assessoria
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