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29/04/2016

Massacre do Centro Cívico completa um ano

Massacre do Centro Cívico completa um ano
Foto: Joka Madruga

Pessoas caídas pelo chão, tiros disparados, dezenas de feridos, bombas de efeito moral jogadas em diversas direções, helicóptero acuando a multidão. As cenas até poderiam ter saído de algum filme de cinema. Mas, infelizmente, não eram. Quem presenciou o fatídico 29 de abril de 2015, na Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, em Curitiba, jamais se esquecerá da selvageria ali impetrada pelo governo do Estado. Em frente ao Palácio Iguaçu, professores, servidores estaduais, apoiadores e manifestantes, que protestavam contra o projeto de mudança no fundo da previdência dos funcionários do Estado, foram tratados com violência desproporcional pela Polícia Militar (PM), em que nada lembra um estado democrático de direito. O resultado disso tudo? Mais de 200 pessoas feridas, quatro delas da imprensa, e uma mancha na nossa história.


Muitas das testemunhas do massacre eram jornalistas, que cobriam as manifestações e foram jogadas direto para a tormenta que se registrou. Um ano depois desta truculência, três colegas de profissão relataram como foi estar no Centro Cívico no dia 29 de abril de 2015. Em comum, a mesma impressão: ninguém vai se esquecer deste dia.


A jornalista da APP-Sindicato, Aline Lima, conta que o clima já estava tenso desde o início, mas que ainda esperavam acompanhar a votação na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). “Já sentia que o ambiente estava pesado, mas não imaginava que fosse ocorrer algo, como foi o dia 30 de agosto de 1988 (professores massacrados pela PM quando o estado era governado por Álvaro Dias). De repente, começaram a soltar bombas. Precisei correr. Sentia muito medo e impotência, pois não havia algo que pudesse fazer. Por conta do gás de pimenta, precisei ser atendida por uma equipe médica. Por sorte, não tomei tiro”, relata.


Lima conta que conseguiu subir no carro de som que estava no evento e fala sobre a visão que teve. “Foi uma cena horrível. Vi muita gente machucada. Vi dirigentes sindicais gritando para que pudessem socorrer os feridos que estavam no meio do caos. Como jornalista, eu senti uma grande agressão contra a democracia. A violência ali não foi apenas física, mas também psicológica. Por conta disso, fiquei com certo receio de cobrir manifestação, pois jamais me esquecerei do que houve. O 29 de abril deve ser lembrado como algo de cunho pessoal, pois destinar uma violência desta a um grupo de trabalhadores afeta toda a sociedade”, opina.


O fotógrafo e diretor de imagem do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), Joaquim Eduardo Madruga, revela que estava mandando fotos do helicóptero que estava presente no massacre quando a confusão começou. “Ouvi o primeiro tiro e pessoas correndo. Rapidamente, a situação saiu de controle. Tratei de pegar meu equipamento e corri em direção de onde as bombas e tiros estouravam. Só que o vento carregou o gás de efeito moral para onde estava. Mesmo com dificuldades em respirar e com os olhos ardendo, consegui captar algumas imagens. Fui para outro lado para evitar a fumaça e ter uma visão melhor e pude ver professores sendo carregados, outros ensanguentados. Foi uma covardia sem precedentes”, afirma.


Madruga diz que foi triste demais ter que registrar as imagens e ver também que alguns colegas da imprensa acabaram se machucando. “Foi muito pesado ter que passar por tudo isso. Não só como jornalista, mas também como cidadão. As pessoas ali presentes estavam reivindicando o seu direito de protestar contra uma medida do governo ao qual eram contrárias. Foi um momento muito pesaroso. Porém, não se espera muito de um governador que administra o estado dando atenção apenas para os patrões, sem demonstrar interesse para os trabalhadores”, salienta.


Fazendo um trabalho para uma rede de televisão naquele dia, a repórter Thais Travençoli lembra que, desde cedo, já havia algo de estranho no 29 de abril. “Eu imaginava que algo poderia acontecer, contudo, jamais imaginava que seria como foi de fato. Desde cedo, havia forte policiamento nas ruas próximas. Tivemos até dificuldades em chegar na Alep. . A sessão havia começado há alguns minutos, quando ouvimos a primeira bomba. Nem deu tempo de registrarmos algo no plenário. Infelizmente, todas as atenções estavam na principal rampa de acesso à Alep”, diz. Travençoli fala também das cenas vistas durante o massacre. “Vimos cerca de duas horas de cenas fortes. Muitas bombas, muita fumaça, gritos, cachorros latindo e gente correndo na Praça Nossa Senhora de Salete. Meus olhos ardiam muito e a cada canto da rampa via jornalistas registrando tudo, mas ao mesmo tempo se protegendo da fumaça e do cheiro forte. Foi ali na rampa que vimos a triste cena com o cinegrafista Jesus, da Band TV, ser atacado por um cão da PM. Em seguida, outra repórter da nossa equipe me ligou dizendo que o cinegrafista dela se feriu. Ele levou uma bala de borracha no braço e seguiram para o hospital. Depois destas cenas, ficou ainda mais tenso”.


A jornalista conta também que teve dificuldades em trabalhar e que estava preocupada também com o noivo, que é professor. “Não conseguia mais pensar em como fecharia o meu VT. Sentia medo e também estava muito preocupada com meu noivo e também estava lá, entre os manifestantes. Eu ligava pra ele várias vezes, mas não me atendia, pois estava ajudando os colegas feridos. Também ouvia nos bastidores a informação de que muitas pessoas estavam feridas e sendo atendidas na sede da Prefeitura de Curitiba. Depois consegui falar com ele, mas mesmo assim, foram minutos de desespero e muito medo”, revela. Travençoli comenta como reagiu a isso tudo. “Por ser jovem na área, digo que foi meu maior desafio no jornalismo. Tive que trabalhar, dentro das condições, pra registrar tudo o que acontecia e ainda saber lidar com o emocional. Creio que consegui, mas posso afirmar que levei alguns dias para voltar ao ‘normal’”, encerra.
Autor:Flávio Augusto Laginski Fonte:SindijorPR
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