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15/09/2016

Jornalistas são demitidos após lutarem por direitos no interior de São Paulo

A direção da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), responsável pela publicação dos jornais Correio Popular, Notícias Já, Revista Metrópole e Portal RAC, com sede em Campinas-SP, descontou em folha de pagamento os valores referentes ao Imposto de Renda de 2015 de seus funcionários, mas não fez o repasse à Receita Federal. A informação é de jornalistas que trabalham na empresa, que desde o início do ano já vêm sendo prejudicados com constantes atrasos no pagamento de salários e benefícios, a falta de depósitos do FGTS e INSS e o descumprimento do percentual integral da reposição salarial firmada em convenção coletiva da categoria.


Além disso, trabalham sob constante ameaça de novas demissões e aqueles que cobram soluções para os problemas, ou seja, nada mais que seus direitos, são chamados de “agitadores”. Nos últimos anos, dezenas de colegas e outros trabalhadores foram demitidos da empresa, sobrecarregando os que ficaram; a gráfica foi fechada e publicações foram descontinuadas. No início desta semana, três jornalistas que participaram de um ato de protesto (no sábado- dia 10, em praça na região central da cidade) para denunciar a situação e cobrando soluções foram demitidos por “justa causa”.


“E ainda estamos sendo acusados pela direção de prejudicar a recuperação da empresa!”, desabafam sobre tentativa da direção de culpabilizar a organização dos trabalhadores pelas dificuldades econômicas e de gestão por que passa a empresa há anos. Direção essa que decidiu simplesmente se apropriar de impostos federais que, entre outras graves consequências, coloca os funcionários em dívida com a União (na malha fina).


Sindicato


A situação é muito grave e merece todo o empenho de entidades sindicais em defesa dos trabalhadores. Segundo informaram colegas da Redação, a direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) garantiu (antes das novas ocorrências envolvendo o IR) que já denunciou os desmandos da direção da RAC ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esperamos que a retenção dos valores do IR também esteja sendo denunciada pelo Sindicato.


Em nota, publicada no site do SJSP na noite de terça (13), a direção confirma a informação sobre o IR e informa que “já entrou com pedido na Justiça do Trabalho para contestar as demissões arbitrárias (por justa causa) e exigir a reintegração dos jornalistas.” “Caso a empresa não reintegre os demitidos e nem abra o diálogo com o Sindicato em até 72 horas, os jornalistas devem entrar em greve a partir da próxima quinta-feira (15)”. Colegas da Redação confirmam a intenção de greve. Várias paralisações (de algumas horas) já ocorreram desde o início do ano, por conta dos atrasos no pagamento. 


A nota também informa que “Na Justiça do Trabalho, a empresa alegou que está em negociação com a Caixa Econômica Federal e a Previdência Social para o parcelamento dos atrasados do FGTS e INSS, respectivamente. Mas, até o momento, o SJSP não tem informações objetivas sobre esses parcelamentos.” A direção do Sindicato também acusa a direção da RAC de assédio moral e prática antissindical contra seus trabalhadores, na medida em que fere o direito constitucional à livre associação sindical.


História


A acusação da direção da RAC, de que trabalhadores seriam responsáveis pela não recuperação financeira da empresa, é ainda mais absurda se considerarmos alguns fatos da história dessa gestão, a cargo de Sylvino de Godoi Neto, que assumiu o controle em controversa disputa com Hermes. Foi Sylvino o principal responsável pela compra do concorrente e mais antigo jornal da cidade, o Diário do Povo, em 1996, passando a deter o monopólio da imprensa escrita e, poucos anos depois, reduzindo drasticamente os postos de trabalho para jornalistas em Campinas, com a integração das redações do Diário e Correio (2000). 


No entanto, “do ponto de vista comercial, o Grupo passou a ter 82% do mercado de leitores da cidade, com um milhão de habitantes à época. Esse mercado era ainda maior com a distribuição dos dois jornais em toda a região de Campinas que possuía cerca de três milhões de habitantes.”, relatam os jornalistas Ivete Cardoso Roldão e Gilberto Roldão, no Artigo “Diário do Povo (1912-2012): depois de 100 anos Campinas-SP perde seu mais antigo jornal”, apresentado no do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, em junho de 2013. Isso mesmo, depois de reduzir o jornal a um tabloide, em 2012 o Grupo RAC literalmente enterrou o Diário do Povo. 


Gestão


Então, se a RAC enfrenta hoje dificuldades financeiras isso se deve única e exclusivamente à ambição dos donos por controlar a mídia local e à má gestão de seus dirigentes. Há, ainda, vários relatos de colegas que já trabalharam na empresa sobre extravagâncias de Sylvino de Godoi Neto, que chegou a desviar repórteres fotográficos de pauta para tirar fotos de objetos da sua mansão só para que ele pudesse ver as novas aquisições enquanto viajava ao exterior. Mesmo recentemente, quando a situação da empresa já ia de mal a pior, alguns diretores não abriram mão de investir em carros luxuosos, por exemplo.


União e Luta!


Infelizmente, a situação de precarização pela qual passam os colegas da RAC se repete em várias outras Redações do País e a justificativa dos donos das empresas é sempre a mesma: “a crise”. Em parte, a crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2015 tem seus reflexos no chamado “setor produtivo”, mas eles omitem, por exemplo, altos lucros que tiveram por anos e anos antes, que certamente permitiriam fazer uma reserva para momentos de recessão. Sem contar que a crise passa muito mais pelo modelo de gestão das tradicionais empresas de comunicação, que precisa ser revisto em amplo diálogo com os trabalhadores.


Em contrapartida, o número de jornalistas sindicalizados foi reduzido nos mais diversos estados, sinalizando uma crise de identidade da categoria com suas entidades representativas. Isso coloca para os sindicatos o desafio de dialogar e convencer a categoria de que o movimento deve ser o contrário, de aproximação e união, especialmente nesse momento de ataques aos direitos da classe trabalhadora no País. A organização dos trabalhadores da RAC-Campinas é um exemplo de que a categoria tem consciência e disposição, sabe que é preciso vencer o medo e lutar por seus direitos.

Nós, coletivos abaixo-assinados, manifestamos aqui nossa total solidariedade aos jornalistas e demais trabalhadores da RAC e nossa plena disposição em apoiá-los! À Luta!

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR)

Movimento Luta, Fenaj!

Coletivo de jornalistas paulistas Sindicato é Pra Lutar!

Coletivo Jornalistas de Campinas e Região

Autor:SJSP
Gralha Confere TRE