Após sete meses de negociação e pressões dos empresários e das empresárias de comunicação do Paraná, jornalistas aceitaram nesta terça-feira (30/11) imposição de 50% de reajuste da inflação
A exemplo do que ocorreu no ano passado, as dificuldades enfrentadas por jornalistas de todo o estado – em decorrência da queda do poder aquisitivo, do desemprego, das demissões e da pandemia de covid-19 – foram usadas por empresários e empresárias de comunicação do Paraná para impor mais perdas salariais aos seus funcionários.
Com a situação financeira já deteriorada, a categoria decidiu em assembleia-geral, por maioria de voto, na noite desta terça-feira (30/11), aceitar a imposição das empresas de reajuste de 3,7% dos salários a partir de janeiro, em parcela única e sem retroativo. A inflação acumulada no período da data base, de maio de 2020 a abril de 2021, foi de 7,59%, o que representa perda de cerca de 50%. A partir de janeiro de 2022, o Piso Salarial Profissional no Paraná passa a ser de R$ 3.810,70.
Essa nova imposição dos empresários e das empresárias de comunicação eleva as perdas salariais de jornalistas que atuam em diversos setores (rádio, TV, jornais, revistas e assessorias, entre outros) para 5,3%. Isso sem contar a inflação acumulada no período de maio a abril deste ano, que é de 5,96%. Segundo o Dieese, a estimativa atual para a data-base de maio de 2022 é que o acumulado do INPC chegue a 10,11%, o que elevaria, até lá, a uma perda de renda dos jornalistas acima de 16%.
“Os jornalistas e as jornalistas já estão no limite de suas condições financeiras e vivem sob ameaça constante de perder o emprego. A situação começa a ficar insustentável para grande parte dos profissionais e das profissionais. Tem gente que não consegue mais nem ter acesso a bens e produtos de primeira necessidade. É o salário da fome”, diz o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), Célio Martins.
Eleito na última quinta-feira (25/11) para o cargo, Martins cobra dos empresários e das empresárias tratamento digno para com profissionais que são fundamentais para a existência das empresas. “A deterioração do poder aquisitivo da categoria implica piores condições de trabalho e limitações na produção de jornalismo de qualidade. Esse cenário é ruim para todos os lados. Com jornalistas mal remunerados e sem condições dignas de trabalho, as empresas de jornalismo perdem credibilidade junto à população, que cada vez mais tem buscado informações em fontes não confiáveis”, observa.
"Todo ano tem sido uma negociação exaustiva. São muitos meses de conversa e um total descaso dos patrões. O trabalho aumenta, somos uma categoria essencial e o retorno não chega. Em meio a pandemia, muitos foram linha de frente e tiveram os salários reduzidos. Patrões demonstram total desvalorização com os profissionais", aponta a diretora de saúde do Sindijor Norte PR, Cecília França. "Precisamos que a categoria se una nas negociações da CCT do próximo ano e que os empresários respeitem quem os faz crescer. Eles têm todo o direito de ter seus milhões, mas os jornalistas não podem ficar só com as migalhas", completa.
As negociações para o reajuste salarial começaram no início de maio. A proposta patronal inicial foi de “0%” e depois passou para "1%" – percentual negado em assembleia da categoria realizada em julho. Em novembro, as empresas ofereceram 3,2% e, na mesa de negociação, elevou para 3,7%. A partir de janeiro próximo, o SindijorPR e o Sindijor Norte iniciarão mobilização da categoria para as negociações da data base de maio de 2022.